Carta de uma mãe à Gabeira recriminando as drogas
Date: Thu, 16 Oct 2008 23:51:46
Sr. Fernando Gabeira,
Sr. Fernando Gabeira,
Eu sou uma mãe, carioca, de 44 anos. Nasci e cresci em Copacabana, casei e fui morar em Botafogo. Lá nasceu Camila, hoje com 18 anos. O último dia em que vi minha filha foi quinta passada, dia 2. E assim tem sido minha vida. Ela chega em casa suja, às vezes com hematoma. Chora. Pede para eu interná-la. E, no dia seguinte, foge de novo. Camila é viciada desde os 16. Há dois anos eu perco minha filha para a droga um pouquinho por dia. O senhor sabe o que é ver uma menina que veio de dentro de mim chegar em casa com um roxo no rosto? O senhor sabe o que é descobrir que sua filha roubou coisa da irmã para evitar apanhar mais na rua? Minha filha apanhou de traficante. Minha filha me roubou. Minha filha fica 5, 7 dias sumida. Eu não sei como anda a saúde dela, não sei se abusaram dela, não sei quanto tempo ela vai viver assim. Minha família está destruída. Todos nós estamos morrendo junto com ela. Eu sei que cada um tem a opinião que quiser, mas como o senhor pode ser favorável à maconha? Eu tenho 44 anos e acompanhei parte dessa 'atitude política' que era usar droga até os anos 80. Eu sou uma pessoa esclarecida. E é como pessoa esclarecida e mãe que pergunto como o senhor é capaz de defender a maconha? Tudo que o jovem precisa para experimentar é de uma figura como a sua. O 'coroa cabeça' que curtiu a juventude, fez o que quis, experimentou tudo, defendeu a bandeira o quanto quis e, hoje, simplesmente desliga esse passado e sai dessa como o queridinho, o autêntico, o vencedor. Que vencedor o senhor é? Talvez o senhor nunca tenha entendido que sua vaidade de ser o porta-voz dessa 'causa', possa ter custado um preço alto demais para várias famílias. Quantos 'baseadinhos' inocentes não levaram meninos e meninas para um caminho sem volta? A pessoa que consegue ser usuária de droga sem se viciar devia entender que é uma exceção e que, por isso, não pode ter a droga como bandeira. Droga pode até ser uma escolha pessoal, como o senhor defende. Mas não pode ser bandeira de ninguém! O senhor tem que agradecer a Deus por não ter ficado dependente e não pode tratar o assunto com a irresponsabilidade que tratou ao longo de anos. Como se maconha fosse uma brincadeirinha, um cigarrinho inofensivo, o apito no posto 9. Pode ser para o senhor. Pode ser para meia dúzia. Mas se não foi para um, isso já é crueldade. Ou o senhor não sabia que há os que morrem pela droga. Seja de overdose, seja de tiro, seja de alguma doença ligada. Talvez o senhor não tenha noção do que é ir dormir sabendo que, naquele momento, sua filha está entregue à sorte. Não posso aceitar que minha cidade considere a possibilidade de ter, como prefeito, uma pessoa que ajudou a formar a opinião de muitos jovens, durante anos, sem se dar conta da destruição de tantos filhos, mães e pais pela droga. O senhor tem o meu respeito. Mas sinceramente não tem minha admiração nem meu voto.
Marcia Cerqueira